Pichação

grafite-mulher

Estava levando Yuki, meu caçula de sete anos, para a aula de bateria quando, de repente, ele grita apontando:
– Olha, mãe! Que desenho lindo no muro!
– Cadê? Ah é… maneiraço! Isso se chama grafite. Fica mega estilo mesmo.
– Por que, mãe, por que todos os muros não são assim? Por que as pessoas picham. Por que não pintam bandeiras de times, coração, carrinhos…
– É, Kinho, perceba: essas pessoas que picham enfeiam o mundo. As outras que pintam com carinho põem beleza no Universo. Mas veja: há outras formas da gente enfeiar isso tudo aqui.
– Tipo jogando lixo no chão?
– Tipo isso. Tipo bater, xingar,…
– Tipo falar palavrão…
– Aí depende. Tem palavrão que não enfeia nada. Mas se ele for usado para ofender alguém pode até ser mais feio que bater, sabia?
– Por que as pessoas enfeiam o mundo, mãe? Por que? Será que elas não sabem que, tipo, se elas derem flores ao invés de xingar o outro, o mundo não fica beeeem mais agradável?
–  E você, meu filho, o que pretende fazer para aumentar o pouco de bonito que temos  aqui?
– Ah eu… eu… eu pretendo fazer uma casa e pintar o muro com a bandeira do Brasil para mostrar que eu torço por todo mundo aqui. Pretendo fazer música. Pretendo fazer as pessoas mais felizes. Pretendo dar muita flor…

Fofurééééésimo meu Yuki. Fofurééééésimo.

Mas, agora que ele está lá dentro na aulinha que lhe ensina a ter foco no ritmo, cá estou eu pensando completamente descompassada…

Diante dos muros que me aparecem pela frente, estou sendo tal e qual uma pichação ou uma pintura feita com carinho? Ando contribuindo de que forma na estética dessa budega? Onde acho mais tinta? Como misturo essas parcas cores que tenho aqui???

Não é difícil, mas como dá trabalho inflar o belo, não?

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